domingo, 11 de novembro de 2012

A língua e o conceito de erro


   Falar sobre a nossa língua é na verdade um assunto polêmico e desafiador. Isso ocorre porque existem vários aspectos que, para a maioria das pessoas, não estão claro, como por exemplo: há uma tendência quase geral em se acreditar que existe apenas uma única norma e por sua vez uma única forma de escrever e falar corretamente. Sendo assim não é raro vermos  em nossos dias uma imposição de uma única norma (norma culta ou norma padrão)ignorando-se ou até mesmo desprezando-se as normas populares ,isto é, as formas de comunicação  das classes excluídas socialmente, que tem baixa escolarização ou até mesmo nenhuma , e sofrem em decorrência da má distribuição de renda no Brasil. Esta norma popular predomina nos ambientes rurais onde o grau de escolarização é nulo ou muito baixo. Predomina também nas periferias das cidades.

   Como já foi exposto, existe muita opacidade nas questões que envolvem a língua portuguesa, pois muitos indivíduos reduzem as questões que dizem respeito á nossa língua a uma simples atitude de se falar certo ou errado, no qual toda problemática seria resolvida apenas consultando  uma boa gramática, e neste caso, caberia às gramática normativas a palavra final.

   A palavra gramática em grego , significa na origem ,a arte de escrever. Os fundadores da  disciplina chamada gramática  desprezava-se a língua falada(considerada caótica ,ilógica)e também classificavam a mudança da língua ao longo do tempo de uma “ruína” ou “decadência“ .Na verdade  poucos setores da sociedade discutem os aspectos sócias e econômico  que envolvem o uso da língua portuguesa. Por exemplo: as desigualdades sócias  que acarretam o desemprego, a fome ,o analfabetismo no Brasil  que é na verdade resultado da má distribuição de renda e que por sua vez  faz com que milhões  de pessoas sejam excluídas socialmente .Tudo isso resulta, numa minoria da ,população, que além de possuírem uma renda vertiginosamente maior que a maioria  , são escolarizadas e falam de acordo com uma norma dita culta ,norma essa, que mais se aproxima da norma padrão; também temos por outro lado ,uma maioria nem sempre escolarizadas que além de serem vítimas da exclusão social são detentoras de uma norma popular estigmatizada.

 Para Marcos Bagno o fato de se criticar alguém pelo seu modo de falar “errado” é o mesmo que dizer que esse alguém é errado, tal atitude é caracterizado como um preconceito linguístico que esmaga  a autoestima dos cidadãos, além disso essa ideologia provoca no individuo um profundo sentimento de auto aversão ,isto é, um sentimento de desgosto pelo próprio modo de falar, de pensar e mais uma vez de ser.

   Segundo Bagno, na pratica pedagógica tradicional, ensinar português é querer provar que a língua boa, certa, bonita vive do outro lado do atlântico á milhares de quilômetros, falada pelos habitantes de um paraíso linguístico chamado Portugal: dez milhões de pessoas que, ao contrario de 190 milhões de brasileiros, falam tudo certinho, não cometem “mistura de tratamento” e nunca mas nunca mesmo começam uma frase com pronome obliquo. Ensinar português, portanto, seria então, firmar e afirmar, confirmar todo folclore, toda superstição que gira bem torno dos fatos linguísticos na nossa cultura: “Português é muito difícil” “brasileiro não sabe português”, ou seja, falamos uma língua “emprestada” que não respeitamos e que ao contrario abastardamos o tempo todo.

   Marcos Bagno defende que, é preciso se ensinar estudar o brasileiro, pois para ele  estudar o brasileiro é ter uma visão mais sintonizada como pensamento cientifico contemporâneo. É admitir que  a  gramática tradicional depois de 2,300 anos  de soberania é uma página virada da história, representa uma etapa já concluída da evolução do conhecimento humano sobre o fenômeno da linguagem. Que foi uma contribuição importante mas que é preciso ir além dela, avançar ,criar conhecimento novo.

   Estudar o brasileiro é não se contentar com que vem pronto, é não querer reproduzir sem crítica uma doutrina  transmitida intacta  durante séculos a fio. É buscar construir seu próprio conhecimento, é contrastar os resultados da pesquisa com os postulados tradicionais. É reconhecer a diferença entre o que é e o que  alguns poucos acham que deveria ser.

   Estudar o brasileiro  é dar voz a língua falada e escrita aqui no Brasil, bem maior que Portugal habitado por uma população bem mais numerosa. É perceber que todas as línguas mudam, que toda língua é um grande corpo em movimento, em formação e transformação, nunca definitivamente pronto.

   Por tudo que já foi exposto, é preciso então se levar em conta  que por ser o português   uma língua com muitas variações, e por conta disso heterogênea ,é impossível se avançar nos estudos da língua tomando só por base a  imposição de uma única norma, entretanto não podemos defender o outro extremo ,ou seja, o desprezo pela gramática normativa pois a mesma continua sendo bastante necessária para o ensino da língua .A insistência em ignorar a importância das gramáticas normativas revelaria uma falta de compromisso com espírito cientifico, além de um pretexto para reprodução de um outro   preconceito.

   

   

 

 

 

 

 

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