domingo, 11 de novembro de 2012

A língua e o conceito de erro


   Falar sobre a nossa língua é na verdade um assunto polêmico e desafiador. Isso ocorre porque existem vários aspectos que, para a maioria das pessoas, não estão claro, como por exemplo: há uma tendência quase geral em se acreditar que existe apenas uma única norma e por sua vez uma única forma de escrever e falar corretamente. Sendo assim não é raro vermos  em nossos dias uma imposição de uma única norma (norma culta ou norma padrão)ignorando-se ou até mesmo desprezando-se as normas populares ,isto é, as formas de comunicação  das classes excluídas socialmente, que tem baixa escolarização ou até mesmo nenhuma , e sofrem em decorrência da má distribuição de renda no Brasil. Esta norma popular predomina nos ambientes rurais onde o grau de escolarização é nulo ou muito baixo. Predomina também nas periferias das cidades.

   Como já foi exposto, existe muita opacidade nas questões que envolvem a língua portuguesa, pois muitos indivíduos reduzem as questões que dizem respeito á nossa língua a uma simples atitude de se falar certo ou errado, no qual toda problemática seria resolvida apenas consultando  uma boa gramática, e neste caso, caberia às gramática normativas a palavra final.

   A palavra gramática em grego , significa na origem ,a arte de escrever. Os fundadores da  disciplina chamada gramática  desprezava-se a língua falada(considerada caótica ,ilógica)e também classificavam a mudança da língua ao longo do tempo de uma “ruína” ou “decadência“ .Na verdade  poucos setores da sociedade discutem os aspectos sócias e econômico  que envolvem o uso da língua portuguesa. Por exemplo: as desigualdades sócias  que acarretam o desemprego, a fome ,o analfabetismo no Brasil  que é na verdade resultado da má distribuição de renda e que por sua vez  faz com que milhões  de pessoas sejam excluídas socialmente .Tudo isso resulta, numa minoria da ,população, que além de possuírem uma renda vertiginosamente maior que a maioria  , são escolarizadas e falam de acordo com uma norma dita culta ,norma essa, que mais se aproxima da norma padrão; também temos por outro lado ,uma maioria nem sempre escolarizadas que além de serem vítimas da exclusão social são detentoras de uma norma popular estigmatizada.

 Para Marcos Bagno o fato de se criticar alguém pelo seu modo de falar “errado” é o mesmo que dizer que esse alguém é errado, tal atitude é caracterizado como um preconceito linguístico que esmaga  a autoestima dos cidadãos, além disso essa ideologia provoca no individuo um profundo sentimento de auto aversão ,isto é, um sentimento de desgosto pelo próprio modo de falar, de pensar e mais uma vez de ser.

   Segundo Bagno, na pratica pedagógica tradicional, ensinar português é querer provar que a língua boa, certa, bonita vive do outro lado do atlântico á milhares de quilômetros, falada pelos habitantes de um paraíso linguístico chamado Portugal: dez milhões de pessoas que, ao contrario de 190 milhões de brasileiros, falam tudo certinho, não cometem “mistura de tratamento” e nunca mas nunca mesmo começam uma frase com pronome obliquo. Ensinar português, portanto, seria então, firmar e afirmar, confirmar todo folclore, toda superstição que gira bem torno dos fatos linguísticos na nossa cultura: “Português é muito difícil” “brasileiro não sabe português”, ou seja, falamos uma língua “emprestada” que não respeitamos e que ao contrario abastardamos o tempo todo.

   Marcos Bagno defende que, é preciso se ensinar estudar o brasileiro, pois para ele  estudar o brasileiro é ter uma visão mais sintonizada como pensamento cientifico contemporâneo. É admitir que  a  gramática tradicional depois de 2,300 anos  de soberania é uma página virada da história, representa uma etapa já concluída da evolução do conhecimento humano sobre o fenômeno da linguagem. Que foi uma contribuição importante mas que é preciso ir além dela, avançar ,criar conhecimento novo.

   Estudar o brasileiro é não se contentar com que vem pronto, é não querer reproduzir sem crítica uma doutrina  transmitida intacta  durante séculos a fio. É buscar construir seu próprio conhecimento, é contrastar os resultados da pesquisa com os postulados tradicionais. É reconhecer a diferença entre o que é e o que  alguns poucos acham que deveria ser.

   Estudar o brasileiro  é dar voz a língua falada e escrita aqui no Brasil, bem maior que Portugal habitado por uma população bem mais numerosa. É perceber que todas as línguas mudam, que toda língua é um grande corpo em movimento, em formação e transformação, nunca definitivamente pronto.

   Por tudo que já foi exposto, é preciso então se levar em conta  que por ser o português   uma língua com muitas variações, e por conta disso heterogênea ,é impossível se avançar nos estudos da língua tomando só por base a  imposição de uma única norma, entretanto não podemos defender o outro extremo ,ou seja, o desprezo pela gramática normativa pois a mesma continua sendo bastante necessária para o ensino da língua .A insistência em ignorar a importância das gramáticas normativas revelaria uma falta de compromisso com espírito cientifico, além de um pretexto para reprodução de um outro   preconceito.

   

   

 

 

 

 

 

sábado, 10 de novembro de 2012

Navegar é preciso


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:   

"Navegar é preciso;  viver não é preciso". 

Quero para mim o espírito [d]esta frase,  

transformada a forma para a casar como eu sou: 

 
                                                           Viver não é necessário;  o que é necessário é criar. 

 Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. 

Só quero torná-la grande,  

ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. 

 

Só quero torná-la de toda a humanidade;  

ainda que para isso tenha de a perder como minha. 

Cada vez mais assim penso. 

 

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue  

o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 

para a evolução da humanidade. 

 

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. 

 

 

 

O beijo no asfalto


Análise das singularidades da obra “O beijo no asfalto” e sua adaptação para o cinema





Resumo:


 Este ensaio tem por objetivo analisar a obra de Nelson Rodrigues(O Beijo no asfalto) bem como a sua adaptação para o cinema. O presente trabalho analisará as particularidades  que compõem a obra original e sua adaptação, apontando diferenças que caracterizam ambas obras,  bem como a intencionalidade do autor .


Palavra chave:


Cinema brasileiro e a crítica à sociedade  



Introdução


  A preocupação de se entender as relações entre cinema e literatura é muita antiga sendo que é comum se procurar , na adaptação, sinais de fidelidade para com  a obra original e assim se  fazer comparações entre ambas. Para muitas pessoas qualquer vestígio de  diferença pode ser encarado como desvio, e consequentemente ,a adaptação é vista como um trabalho inferior. Para Marcel Silva que escreveu sobre o assunto, a adaptação cinematográfica  é um processo intertextual, anti-hierarquico, plural ,hidibrizante, multicultural e canibalizante, isto é ,a adaptação não tem por obrigação ser uma cópia da obra original pois cada uma tem sua particularidade. A obra original é escrita num determinado período, influenciada por uma série de códigos de representação  e por momentos históricos delimitado, do mesmo modo que a adaptação fílmica. Há muitas diferenças entre a linguagem literária e a linguagem do cinema. Por exemplo, na linguagem literária é  o leitor que faz a maior parte do trabalho, imaginando as características do personagem, o cenário em que os acontecimentos se desenrolam; já os cineastas (roteiristas)precisam fazer grande parte do trabalho do leitor, isto é, tem que colocas nas telas em mínimos detalhes aquilo que a  linguagem literária não pode fazer. Os aspectos físico cor, tamanho , paisagens dos lugares das cenas, devem ser postas em imagens e som. O cineasta tem que tomar decisões antecipadas pelo autor ou leitor, mas esse trabalho é muito complexo e requer paciência, imaginação e criatividade.

  Para Jorge furtado a transposição da literatura para a linguagem áudio visual envolve os aspectos estético e ético. No que diz respeito ao aspecto estético cabe lembrar que na linguagem áudio visual toda informação deve ser visível ou audível. Em relação ao aspecto ético leva-se em consideração que, em muitas circunstancias, a imagem vem substituindo a palavra. Segundo Jorge, uma sociedade baseada no texto escrito seria aquela em que a lógica, a ordem e o contexto predominam, mas uma sociedade baseada em imagens, seria aquela em que a lógica e o contexto perdem terreno  para gratificação imediata  ,o cinema e a televisão criam imagens , a literatura cria imaginação, afirma Jorge.

  A obra o beijo no asfalto é um conto de Nelson Rodrigues  que ele mesmo classificou como uma tragédia carioca, tragédia é um gênero que tem como característica um final doloroso. O herói comete um ato vil e por causa disso ele enfrentará dor e sofrimento, isto é, o castigo e em seguida  a morte.  Arandir é um exemplo desse herói e o ato vil que ele comete (o beijo no asfalto) motiva todo o seu sofrimento. O herói ao cometer o ato quebra um tabu com a sociedade burguesa. Um repórter oportunista inescrupuloso faz Arandir e sua família sofrerem e finalmente ele é assassinado pelo sogro que movido por ciúmes comete o crime.

  Nelson põe em evidencia  as consequências do que seria um ato vergonhoso. As atitudes da mulher (Selminha) revela ser ela uma pessoa não tão apaixonada pelo marido como a personagem mesmo declarara, a cunhada (Dália) se mostra apaixonada por Arandir; o sogro ,homossexual (Aprigio), também é apaixonado  pelo herói. Tal circunstancia põe em evidencia que a  família direta ou indiretamente ,participa do ato delituoso.

  O leitor ao se deparar com obra deve estar previamente instruído sobre o gosto pelo grotesco da parte do autor que desenvolve situações  e personagens que chegam a ser surreais, um pouco de psicologia será bem útil para se entender o conto. As Características da obra São:

-Nelson busca novas formas para o teatro nacional que se limitava a copiar e representar o modelo europeu.

-O autor prioriza temas desagradáveis que, em geral, chocavam a sociedade burguesa.

-Crítica às instituições e aos valores burgueses.

- Fixação pela sexualidade, numa visão freudiana do tema

-Obsessão pela morte.

-Caricaturização dos personagens, tornando-os , muitas vezes grotescos.

-Frases curtas, reticentes, incompletas por representarem diálogos , feitos para serem ouvidos e não lidos. Vejamos os personagens  principais: Arandir ,Jovem funcionário público, recém-casado, ingênuo e aparentemente bondoso, Aprígio-sogro de Arandir e viúvo, Amado Ribeiro-jornalista inescrupuloso e oportunista, Cunha- delegado violento e estúpido, dominado pelo repórter, Selminha-Mulher de Arandir ingênua e insegura,Dália-irmão mais jovem de Selminha- apaixonada pelo cunhado.

   A obra transposta  para o cinema que tem a direção de Bruno Barreto e adaptação de Doc Comparato, é um filme que tenta levar ao conhecimento dos telespectadores a obra de Nelson. Para aqueles que nunca leram o conto, o filme mostra-se recomendável. É claro que a obra não chega a ser uma cópia fiel da original e nem poderia ser. Para aqueles que têm contato com o conto e o  filme, notará muitas diferenças e isso é bastante natural em qualquer processo de adaptação. Por exemplo, o filme, diferentemente da obra original, começa mostrando a cena do atropelamento mas não chega a mostrar o beijo que Arandir (interpretado por Ney Latorraca)dar na boca da vítima. Na obra original o primeiro ato começa  narrando os acontecimentos no distrito policial –sala do delegado Cunha-veja o recorte da cena do filme:


Adaptação

                                                                             



fig 1
  

Em relação  ao conto ,como já comentamos, podemos notar  algumas diferenças, vejamos alguns trechos da obra e em seguida comparemos com as cenas do filme:


Primeiro ato


(Distrito policial correspondente à Praça da Bandeira. sala do delegado Cunha . Este, em mangas de camisa, os suspensórios arriados ,com um escandaloso revolver na cintura.

(Entre o detetive Aruba.)   


Nesta pequena descrição, podemos em contraste com a cena do filme uma diferença e diz respeito ao “escandaloso revolver “ na cena do filme ele não existe. Outra diferença é o suspensório, pois na adaptação os mesmos não se encontram arriados. Não abordaremos exaustivamente tais diferenças pois não é o intuito deste ensaio .Como já foi dito, uma adaptação seja ela qual for é antes de tudo uma obra hidibrizante, canibalizante .

Portanto  não devemos nutrir expectativas de que a adaptação deve ser uma cópia fiel da original. Veja logo abaixo o recorte da cena do filme:


fig2

  Em relação aos diálogos no filme , tanto o diretor como o ator Daniel filho, afirmam ter reproduzido fielmente o texto do conto de Nelson Rodrigues. Na verdade,  quem assiste o filme atentará  para muitas omissões nos diálogos das personagens ,entretanto, o enredo e o sentido da peça não são comprometidos. O roteirista do filme (doc Comparato) mostra-se bastante competente ao pensar e tentar criar cada detalhe, de forma que o telespectador tenha a sensação de estar diante da obra original. O individuo que talvez encontre dificuldade com literatura, ao se deparar  com a adaptação, terá a oportunidade de acesso à obra ,e mais do que isso, os recursos utilizados no filme (som imagem, cores )faz da adaptação uma obra singular.

  Mas afinal de contas por que o “ o beijo no asfalto escandaliza”?Arandir merece ser punido pela sociedade? O que ele traz consigo  é capaz de desequilibrar as estruturas de uma socieda-

de ?Tais dilemas são representados com grande competência por todo o elenco principalmente

, Ney Latorraca (Arandir) , Daniel Filho, (Amado  Ribeiro)Oswaldo Loureiro (delegado Cun-

ha) que com brilhantes atuações evidenciam  conflitos-não de cinema –mas da alma humana. Apesar de muitos críticos afirmarem que o poder da imprensa é o tema principal da obra ,podemos constatar que outros temas são abordados, por exemplo, a angustia humana diante da vida e da morte ,amores proibidos, conflitos sexuais e antes de tudo a hipocrisia de uma sociedade burguesa defensora de valores que ela mesma não vivia.

 O ato de Arandir , que é interpretado por Ney Latorraca , o transforma em um monstro, uma

 aberração ,diante uma sociedade que puni tudo e todos que se afastam ou transgridem a suposta normalidade e a ordem social. Os monstros são criaturas que tem sua origem no fascínio e temor que o ser humano tem do desconhecido, isto é, aquilo que é diferente ,que foge às regras sociais é visto como uma ameaça uma aberração e portanto deve ser punido. Arandir é um monstro e sua monstruosidade foi o beijo no asfalto, ou seja ,o beijo que ele deu no homem vítima de atropelamento. É  por isso que ele merece ser punido, e assim o nosso herói sofre até resultar em seu assassinato pelo sogro Aprigio, interpretado por Tarcisio Meira. Os monstros precisam existir para que assim a humanidade se convença da sua própria normalidade. Olhando para os monstros  o homem consegue se ver o oposto ,mas na verdade tais monstros vivem bem no íntimo de cada um de nós como no conto da Bela e a fera. Veja o dialogo e um recorte da cena que ilustra  bem tais conflitos, os acontecimentos se passam no distrito policial na hora em que o delegado Cunha e o repórter Amado Ribeiro interrogam Arandir:


                                                     (  Amado   )                                                          

(Exaltadíssimo)_ E você olha. Fazer isso em público! Tinha gente pra burro lá. Cinco horas da tarde. Praça da Bandeira. Assim de povo. E você dá um show! Uma cidade inteira viu!


                                                     (  Cunha)

(Aos berros)_ Você não perdeu. Você jogou fora a aliança!


                                                  ( Amado)


(Furioso)_ Escuta! Se um de nós, aqui ,fosse atropelado. Se a lotação passasse por cima de um de nós (Amado começa  a rir com ferocidade )_Um de nós .O delegado. Diz pra mim? Você faria o mesmo? Você beijaria um de nós rapaz? (Riso abjeto.  Arandir tem um repelão selvagem).




fig3

  Nesta cena  Arandir fica subjugado pelo interrogatório leviano do delegado Cunha  e do repórter Amado Ribeiro. Ambos demonstram uma profunda inquietação com o ato de Arandir. Tal inquietação irá contagiar quase todos os personagens e por conta disso o nosso herói sofre como um cordeiro que terá de ser sacrificado para expiar os pecados de todos.

 Tal característica na obra é própria de Nelson Rodrigues que demonstra em seus contos uma preocupação em por em evidencia temas desagradáveis mas que também são, na verdade ,uma crítica às instituições burguesas. Tais conflitos se desenrolam em toda obra caracterizando os dilemas de uma sociedade hipócrita e tirana. Nelson em sua obra a denuncia duramente e põe em evidencia os seus valores e vícios. A sexualidade é mais uma vez encenada na adaptação de uma forma singular. A homossexualidade é tratada de uma forma bastante impactante pois é ela que vai revelar os conflitos ocultos de alguns personagens .Tal tema sempre foi e ainda é algo desafiador para sociedade que por vezes se mostra tão rígida ,fundamentalista ao mesmo tempo fragilizada. Tal fragilidade é devido extrema  necessidade de normalidade e segurança que por muitas vezes tem se revelado na historia da humanidade. Como já foi dito, o ser humano precisa se deparar com seus “monstros” para se se convencer da própria normalidade. Tais monstros serão sempre seres que transgridem de alguma forma os padrões de normalidade, as conveniências, as crenças de determinadas comunidades e que por isso devem ser hostilizados por todos e  até mesmo destruído . Arandir se enquadra nestes aspectos ,pois o seu ato (o beijo no asfalto) choca toda uma sociedade  ,e desencadeia uma série de acontecimentos que terminará na morte de nosso herói ,que por sinal ,será assassinado pelo próprio sogro. Este,  por sua vez, surpreende os telespectadores declarando o seu ciúme e amor por Arandir.

   Vejamos os diálogos da cena :

A cena se passa na rua, logo após Aprígio ter encontrado Arandir com Dália no motel . Os dois travam uma discursão. Aqui veremos um trecho desse dialogo:


Aprígio-Você era o único que não podia casar com minha filha! O único!

Arandir (atônito quase sem voz) — O senhor me odeia porque deseja a própria filha.

É paixão. Carne. Tem ciúmes de Selminha.

Aprigio (num berro) — De você! (estrangulando a voz) Não de minha filha. Ciúmes de você.

Tenho! Sempre. Desde o teu namoro, que eu não digo o teu nome. Jurei a mim mesmo a mim mesmo que  só diria teu nome a teu cadáver. Quero que você morra sabendo. O meu ódio é amor. Porque beijaste um homem na boca? Mas eu direi o teu nome. Direi teu nome a teu cadáver.

  ( Aprígio atira a primeira vez. Arandir cai de joelhos. Na queda ,puxa uma folha de jornal, torcendo-se abre o jornal, como uma espécie de escudo ou bandeira.

Aprígio atira novamente, varando o papel impresso. num espasmo de dor, Arandir rasga a folha. E tomba, enrolando-se no jornal. Assim morre.)

   Aprígio — Arandir (mais forte) Arandir (um último canto) Arandir.

É claro que há algumas diferenças no que diz respeito à obra original e a adaptação para o cinema. Por exemplo, no filme, Aprígio só atira uma única vez e não há nenhuma referência a jornal, nem muito menos o fato de Arandir ter morrido enrolado nele.

       Com essa obra Nelson Rodrigue revela  toda a sua genialidade ao público; e ao contrario do que se costuma a buscar nos cinemas( filmes de romances fúteis, enredos feitos para agradar), Nelson choca os telespectadores e os leitores pondo em evidência os vícios de uma sociedade hipócrita ,recalcada e fragilizada.









 
fig 4
 
 
 
 
Conclusão


   Foram analisadas neste trabalho, as características da obra original e sua adaptação, levando-se em conta que cada obra tem suas particularidades. Tais diferenças não devem ser encaradas como defeitos, já que, qualquer adaptação para o cinema, é um processo que não se pode ter meramente como parâmetro, a fidelidade para com a obra literária.

  A obra O beijo no asfalto, traz um ruptura com o cinema importado e faz uma denuncia a todo um sistema burguês, defensor de  valores frágeis .Nelson permite  que tal sociedade se veja e tome conhecimento dos seus vícios .O autor usa como espelho a sua própria obra ,para assim, pôr em evidencia os dilemas da alma humana. Os conflitos presentes tanto na literatura como no filme trazem temas como família, sexualidade, incesto, morte, que tiram o telespectador  ou o leitor da sua zona de conforto, para que assim, ele possa refletir sobre a sua própria condição de ser humano.

  

 Bibliografia

     

 FURTADO, Jorge .A adaptação literária para o cinema e televisão

     

RODRIGUES, Nelson. Teatro completo. 2.edição Rio de  Janeiro: Nova Fronteira (Biblioteca luso-brasileira, Série brasileira


SILVA, Marcel. Adaptação literária no cinema brasileiro contemporâneo: um painel politico








terça-feira, 3 de abril de 2012

Monstros e Monstruosidades

Eliedson dos Santos Sousa

Resumo

Este trabalho tem por finalidade, discutir a figura do monstro na literatura infanto/juvenil,bem como as diversas representações deste ser construída em épocas distintas da nossa história..O presente artigo discute também as novas representações da figura do monstro no mundo contemporâneo.

Palavra chave: O monstro e o desconhecido.

O desconhecido sempre exerceu fascínio e temor sobre o homem, aquilo que é misterioso para o ser humano, despertar-lhe um certo incomodo em face a realidade complexa e desafiadora em que ele vive.O desconhecido pode ser uma coisa ,o outro,os deuses, o mundo,isto é,tudo aquilo que foge da suposta normalidade,do padrão construído pela sociedade.É justamente na dimensão do mistério que poderá surgir a figura do mal,do monstro.

Podemos constatar, que diversos povos tiveram visões distintas do mal ,sendo assim ,o conceito de monstruosidade é relativo em cada cultura.Exemplo: sabemos que os gregos faziam os seus deuses à sua imagem e semelhança, logo, a mitologia grega está repleta de heróis e monstros.Tais seres imitavam os seres humanos:se apaixonavam,invejavam, matavam.Um exemplo conhecido é Ixion que tenta manter relações sexuais com Hera, esposa de Zeus. Para enganar o traidor, o soberano gera uma nuvem semelhante a sua esposa,e concede-lhe vida.Ixion mantem relação com tal criatura pensando ser a verdadeira Hera; em seguida se gaba com os deuses dizendo ter possuído a esposa de deus dos deuses.Zeus por sua vez ,lança Ixion no hades ,e da relação do traidor com a falsa Hera surge um ser misto ,metade homem e metade cavalo,isto é ,um Centauro. Como se vê, os heróis e monstros da mitologia grega, são reflexos dos desejos e conflitos existente na alma humana, sendo que particularmente, era comum atribuir a origem de tais monstros às conseqüências de uma relação ilícita.É o caso da figura do Minotauro.Segundo a mitologia grega, Minos, após assumir o trono de Creta, passou a combater seus irmãos pelo direito de governar a ilha.Rogou então ao deus do mar Poseidon, que lhe enviasse um touro branco ,como sinal de aprovação do seu reinado.Uma vez com posse do touro,Minos deveria sacrificá-lo em oferenda ao deus.Entretanto decidiu poupar-lhe a vida ,em razão de sua beleza.Para punir Minos,Afrodite fez com que Pasifae,mulher de Minos se apaixonasse loucamente pelo touro.Pasifae pediu então ao arquétipo Dédalo,que lhe construísse uma vaca de madeira na qual ela pudesse se esconder no interior,de modo a copular com o touro branco.Sendo que o filho deste cruzamento resultou no Minotauro.Pasifae cuida da criatura durante sua infância,mas o monstro cresce e se torna feroz.A criatura –união entre humano e animal selvagem- irá se alimentar da carne dos homens.

Como vimos, temos neste mito, a figura do monstruoso como resultado de uma punição dos deuses.Porem tal particularidade, não é privilégio da cultura grega,pois a mitologia de povos diversos (romanos,persas,hebreus)se assemelham em muitos aspectos à cultura grega no que diz respeito à construção do monstro e da monstruosidade.

No século XV/XVI, período das grades navegações, era comum, a crença de que o oceano estava habitado por seres monstruosos, tais bestas poderiam atacar toda tripulação.Acreditava-se também que o oceano poderia terminar como se fosse uma imensa cachoeira.O novo mundo era totalmente estranho aos desbravadores,por isso os navegantes europeus o via de uma forma fantástica.Sabemos, por exemplo,que Portugal ora encarava as terras brasileiras como paraíso,outra vezes como inferno,sendo que muitos animais da fauna brasileira despertavam grande espanto nos portugueses, os navegantes relatavam em seus diários de bordo,a existência de “monstros”nas terras brasileiras. Dentre as varias espécies descritas com muita dose de imaginação estavam: macacos, sucuris, jacarés,porco- espinho.O “novo continente” era um universo bastante diferente do mundo em que eles estavam habituados.

Para quem investiga a história, não tardará a perceber, que o homem tendem a considerar também como monstro, todos aqueles ou aquilo que ele tem por inimigo.Tal fato tem sido uma constante durante os séculos.Segundo o professor e pesquisador Julio Jeha, da Universidade Federal de Minas Gerais, o monstro é um vazio que se pode preencher com vários medos.Ainda de acordo com as pesquisas realizadas pelo o professor e os estudantes,a figura do monstro serve para garantir a coesão do grupo.,isto é, toda a comunidade precisa ter união interna para agir contra um inimigo externo.E a maneira mais fácil de conseguir isso é usar a imagem do monstro, dessa forma ,é possível unir todos contra ele.Tal afirmativa pode ser comprovada quando analisamos os conflitos internacionais.

O monstro pode ser ainda resultado de uma falha no conhecimento, as pesquisas do professor traz a figura de Frankenstein, que a maioria das pessoas veem na criatura uma metáfora contra ciência.

Para Ana Margarida Ramos, os monstros dos livros infantis, são os nossos monstros do cotidiano, que de acordo com a tradição,se habituou a associar a estes fenômenos os obstáculos e a e as dificuldades que o herói tem de enfrentar e vencer na sua demanda de glória e imortalidade.Tais monstros têm em comum o fato de se afirmarem como elementos excessivos, ultrapassando, pelo exagero, os limites dos seres ,no tamanho,na ferocidade e nas atividades que desempenham.Entretanto tais seres podem ser vencidos pela astúcia, coragem, força do herói.Desta forma o homem reivindica o seu lugar de primazia no mundo.Entretanto, a figura do monstro vem se modificando, um bom exemplo disso é a obra “Onde vivem os monstros”de Maurice Sendak.Os monstros são apresentados como seres humanizados, que podem ser domados, domesticados.No filme que tem o mesmo título,os monstros aparecem como seres incompreendidos,que têm receios e é isso que favorece a aproximação com a criança protagonista do filme.

Uma outra obra que descontroi o conceito de bem x mal é o filme infantil Shrek, pois o herói da história é ôgro,enquanto que o belo príncipe é o vilão.É um conto de fadas totalmente as avessas,onde o final surpreende a todos aqueles que o assistem.MonstrosS/A também é uma produção que traz um enredo bastante interessante,isto é,um monstro que antes assustava crianças,passa a proteger uma menininha.No final, os outros monstros que se alimentavam com os gritos das crianças, passam a fazer as crianças sorrirem.

Ainda segundo Margarida Ramos, os seres monstruosos do nosso século asseguram ao homem uma estabilidade, é como se os seres humanos necessitassem dessas bestas para se convencerem da própria normalidade.

Sabemos que os personagens que povoam os contos de fada são os mais diversos: bruxas, ôgros,dragões,lobos,vampiros,que ao contrario do que muitos pensam não são frutos de mentes ingênuas,ou particularmente criações da imaginação infantil,mas sim expressões do inconsciente,um escapismo que o ser humano realiza não por leviandade,mas como uma forma de tentar lidar com o mundo misterioso ,instável e desafiador que o cerca.Daí, será cada vez mais comum ,vermos no mundo contemporâneo, novas representações que transgredirão de alguma forma as velhas expectativas.

Referencias:

Wikipédia,enciclopédia livre

Monstros e Monstruosidades(online)

Ramos,Ana Margarida / Os Monstros e a Literatura para a Infância e Juventude

quinta-feira, 1 de março de 2012

O fetichismo e os comercias

Numa propaganda exibida na tv,vemos um frentista espantado por causa de um carro parado no posto de gasolina,é que o veiculo não tinha motorista;enquanto isso, o dono do automóvel, procura pelo carro na garagem mas não o encontra ,o que é espantoso é a possibilidade do automóvel ter se locomovido sozinho ao posto de gasolina só para ser abastecido com o combustível da Petrobrás.Para finalizar ouvimos claramente:

_”Combustíveis Petrobrás o sonho de consumo de todo carro “. Num outro comercial do desodorante Axe vemos que ,em um determinado lugar, a população fica bastante assustada porque os anjos –que na verdade eram do sexo feminino- estavam caindo do céu ,e para espanto de todos e de nós telespectadores , a causa de tamanho desastre apocalíptico,era um jovem motoqueiro que estava usando o desodorante Axe .Por isso, os seres angelicais jogam seus aureolas no chão e vão ao encontro do mortal usuário da marca.No final do comercial ouvimos: ’’Axé, até os anjos cairão’’.

Podemos observar que no primeiro comercial não se diz “o sonho de consumo de todo motorista” porque a pessoa parece não ter importância, mas a marca Petrobrás,no segundo comercial podemos tirar conclusões semelhante,ou seja,é a marca que valoriza o usuário e o ser humano não tem importância alguma em si mesmo.O objeto e a marca ganham poderes mágicos a ponto de subjugar a vontade humana.Eis aí o fetichismo, conceito tão discutido por Max e Freud.

Segundo Marx, na sociedade capitalista o ser humano é subjugado pelo capital passando a ser meramente uma peça no processo produtivo, neste sistema, o operário é explorado de todas as formas, e não participa substancialmente do lucro pelo qual ele próprio é responsável, mas o capitalista, esse sim é nutrido as custas das intensas horas excedentes de trabalho dos operários.Para Marx, o fetiche da mercadoria encobre a dimensão da falta, camuflando uma relação de exploração no processo de produção.A relação entre pessoas é entendida como uma relação entre coisas.No caso desta propaganda ,não são levados em conta que muitos brasileiros não podem consumir os combustíveis da Petrobrás, mesmo porque a maioria da população não tem carro.Tal fato tem sua origem na má distribuição de renda do país,mas como num passo de mágica, a propaganda exibe as vantagens e a urgência de ser consumidor,atribuído à marca um valor semelhante ao da religião,isto é ,o produto deve ser consumido porque o mestre do gozo(publicitário)figura divina assim ordena.,assim também, a televisão parece ser um mensageiro de Deus.

Segundo Maria Rita Kehl, a relação entre consumidor e publicitário faz lembrar as teorias freudianas sobre o fetiche, e segundo a autora o publicitário teria o mesmo fascínio pelo consumidor assim como os perversos teriam pelos neuróticos. O perverso (publicitário) goza com o estado doentio do neurótico (consumidor) , já o neurótico sente-se atraído e dependente do perverso,que e o manipula a seu bel prazer.Ainda segundo Maria Rita, nas sociedades capitalistas, o fetiche da mercadoria é um dos principais organizadores do laço social.Entretanto, o fetiche de mercadoria apaga a diferença entre capitalista e trabalhador, entre o que lucra e quem cede mais-valia.A mercadoria brilha como pura positividade, como máxima expressão de riqueza escondendo a miséria e a exploração que se dá na relação entre produtor e consumidor.

O comercial citado apresenta algumas das características da relação entre capitalistas e trabalhadores, ainda que muitos intelectuais ridicularizem o conceito de lutas de classes tão presentes nas obras de Marx. Muitos teóricos compartilham da idéia de que a solução para se corrigir o sistema capitalista está no próprio sistema capitalista.Enquanto essas ideias forem difundidas e aceitas, ainda que inconscientemente pela maioria das pessoas, assistiremos a cada dia o“bombardeio”apelativo das peças publicitárias nos diversos tipos de mídia,esses comercias escondem interesses diversos ,sendo que, seja qual for a instituição responsáveis pelo mesmos, e fetiche não deixa de estar presente,ainda que de forma sutil.

Todavia, este contexto patológico que envolve as relações de consumo, só terá o seu poder amenizado,quando todos os brasileiros e brasileiras olharem tais produções com um olhar crítico,rejeitando assim as práticas alienantes e consumistas.